01/12/2020
EMPRESAS BRASILEIRAS PRECISAM DESCOBRIR AS OPORTUNIDADES DO MERCADO INDIANO
Brasil será um dos grandes beneficiários do avanço da Ãndia, mas precisa conhecer bem o potencial dessa economia. Agendas de promoção de negócios e eliminação de barreiras são prioritárias
A Ãndia será a nova China para o mercado brasileiro no futuro. No longo prazo, o avanço da economia indiana tem potencial de transformar e impulsionar a globalização em magnitude similar ao processo de modernização da China. O Brasil tem tudo para ser um dos grandes beneficiários da nova conjuntura, mas ainda precisa descobrir as oportunidades que esse mercado oferece.
Para o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Abijaodi, se o Brasil quiser aproveitar plenamente o potencial que a Ãndia oferece em termos de comércio e investimentos, precisa avançar sobretudo na agenda de promoção de negócios e na eliminação de barreiras impostas pelos indianos à s exportações brasileiras.
Monitoramento da CNI revela que a Ãndia impõe pelo menos três grandes barreiras aos produtos brasileiros. Elas atingem a carne de frango, a cana-de-açúcar e peles e couros produzidos no Brasil. No caso do frango, por exemplo, o paÃs exige tarifas e licenças de importação para permitir a entrada do produto.
No da cana-de-açúcar, o governo indiano estabelece um preço mÃnimo para a sua remuneração, causando uma distorção no mercado mundial, e o Brasil já questionou na Organização Mundial do Comércio (OMC) para que a medida seja suspensa.
“As barreiras comerciais e aos investimentos são cada vez mais sofisticadas e difÃceis de serem identificadas. Por isso, é necessário o trabalho contÃnuo com o setor privado para identificação, monitoramento e superação delasâ€, avalia Abijaodi.
Brasil será a única economia com condições para suprir a demanda futura por alimentos na Ãndia
O presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, afirma que a densidade populacional da Ãndia é tão alta que os produtores não encontram espaço suficiente para ampliar a produção de alimentos. A seu ver, com o crescimento demográfico acelerado no paÃs, o Brasil será a única economia com condições de suprir essa demanda no futuro.
“Estamos falando de uma economia que cresce em média 5% a 6% ao ano, e isso aumenta a demanda por alimentos. A Ãndia também deixará de ser um paÃs fechado para ser totalmente aberto, o que nos abre uma grande janela de oportunidadesâ€, afirma Castro.
Os números mostram que, hoje, a Ãndia já é o 11º principal parceiro comercial do Brasil. As nossas exportações para esse mercado são, sobretudo, de semimanufaturados e básicos. O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, destaca ainda que o paÃs asiático é, desde 2014, o principal destino dos embarques brasileiros de óleo de soja.
Apenas no ano passado, 38% das exportações brasileiras de óleo de soja foram para o paÃs, totalizando 410 mil toneladas, mostram dados compilados pela CNI. O Paraná foi o maior exportador, com 41%, seguido do Rio Grande do Sul, com 20%.
“Brasil e Ãndia possuem grande potencial de cooperação em proteÃnas vegetais, óleos vegetais e biocombustÃveis. O Brasil, por exemplo, possui grande potencial de produção, industrialização e tecnologia nessas áreas. Nesse sentido, há grande interesse diplomático na celebração de acordos de comércio exterior e de investimentos entre os paÃsesâ€, afirma Nassar.
Ãndia é mercado extremamente promissor para a indústria brasileira de defesa
A Ãndia representa um mercado promissor para o Brasil também na indústria de defesa. Maior fabricante brasileira de armas leves, a Taurus anunciou em janeiro uma joint venture com o grupo indiano Jindal para iniciar no paÃs asiático a produção de armamentos, por meio do programa “Make in Indiaâ€. A fábrica será inaugurada no inÃcio de 2021.
O presidente da companhia, Salésio Nuhs, afirma que é a primeira vez que a Taurus transferirá tecnologia para outra nação. “Nós descobrimos na Ãndia um mercado extremamente promissor. Não se trata apenas de fabricar e vender armas, mas sim de trabalhar num amplo projeto de transferência de tecnologia. Nós vamos produzir armas para o mercado civil e logo em seguida para equipar o exército indianoâ€, diz Nuhs.
A Taurus está de olho no mercado que representa uma das maiores forças militares do mundo. Ao todo, há 1,3 milhão de pessoas a serviço das Forças Armadas no paÃs. Além disso, a PolÃcia Central da Ãndia tem quase 1 milhão de soldados. Na segurança pública, há 1,4 milhão de policiais e, na privada, 7 milhões de seguranças.
“Estamos falando ainda de um mercado civil com quase 1,4 bilhão de pessoas, num paÃs em que parte da população está autorizada a ter armasâ€, destaca Nuhs.
Para o presidente da Taurus, a negociação de acordos bilaterais é fundamental para a ampliação do fluxo de comércio e investimentos com a Ãndia. Ele afirma que, hoje, a legislação nacional prejudica a produção e exportação de armas, tornando mais vantajoso fabricar nos Estados Unidos, por exemplo.
“Para se ter ideia, aqui, eu demoro de dois a três anos para homologar uma arma, o que faz com que ela saia do mercado com tecnologia já defasada. Nos Estados Unidos, esse processo leva apenas 20 diasâ€, compara.
Não por acaso, o presidente da Associação das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), Roberto Gallo, diz que empresas brasileiras do setor têm buscado programas conjuntos estratégicos para construir plantas de produção em paÃses como a Ãndia.
“Recentemente, o governo indiano aprovou um cronograma de lista negativa de importação em defesa. Ou seja, vão cada vez mais priorizar a produção local em detrimento de sistemas vindos do exteriorâ€, diz.
“A busca de programas conjuntos estratégicos, com viés de produção e exportação a terceiros mercados, é a melhor via, mais sinergética, de ganharmos o mercado global em conjuntoâ€, afirma.
Fonte: Agência de NotÃcias CNI-DF - WEB